quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Portugal Chronicles (ou o que penso acerca daquela música dos Deolinda...) 

Antes de mais, devo dizer que isto não é de todo um ataque aos Deolinda nem à sua música, da qual sou fã.
É sim uma critica a toda esta malta que está a fazer da música "Parva que sou" um hino à revolução sem perceber que o problema é muito mais complexo do que eles imaginam.

Mas vejamos, antes de mais, um video da música:



E vamos então à critica. Eu concordo que a música mostra uma realidade nacional. Que existe muito mais gente do que devia a recibos verdes, que existe imensa gente com cursos superiores no desemprego, que imensos jovens vivem com os pais até muito tarde na vida... mas dizer que alguém é parvo por estudar é um exagero.

E exagero porquê?

Porque, e isto eu assisti (e infelizmente assisto), hoje toda a gente tem a mania que para ser alguém tem de ter um curso superior. É a realidade! Os jovens preferem tirar um curso que sabem à partida não ter saída do que, Deus os livre, trabalharem num supermercado, tirarem um curso técnico-profissional, ou darem uma de empreendedores e criarem o seu próprio emprego. E esta é a realidade. Dos milhentos licenciados inscritos nos centros de emprego, quantos têm um curso que, no dia em que entraram na faculdade, tinha ainda saída?

É que, caso não tenham percebido, num país onde a natalidade vai caindo de dia para dia, cada vez serão necessários menos professores. E não falemos dos (re)cursos como História, Ciências da Comunicação, Filosofia, Sociologia, Arte... a lista é extensa.

Meus amigos, o país não precisa da quantidade absurda de licenciados em certas áreas que temos... E o Governo, ou as Universidades privadas, quando vos deixam estudar lá não vos garantem que vão ter um super emprego a ganhar 6000€ por mês com carro e despesas pagas. Eles estão lá para ganhar dinheiro... mais nada.

O que é triste é ver esta geração a queixar-se e a quererem manifestar-se (curiosamente, existe outra música dos Deolinda sobre esse fenómeno tipicamente Português do "Vão indo que eu vou lá ter". Aqui ) por motivos, a meu ver, absurdos. Não existem empregos para todos os licenciados. E não é a queixarem-se que vão chegar a algum lado, porque o Governo não vai criar mais umas 40 estações de TV para os licenciados em Comunicação Social ou Ciências Políticas terem onde trabalhar como apresentadores e comentadores.

Outro verso que também demonstra muito do espirito Português é aquele verso do "Para ser escravo é preciso estudar". Existe sempre a opção de trabalhar por conta própria. Criar o seu próprio negócio... se somos tão inteligentes, podemos certamente começar um negócio na net com poucos fundos. No entanto, as pessoas preferem a segurança de ter um emprego, do que aventurarem-se. E nessa perspectiva, todos somos escravos. Mesmo o Herman José que para ganhar o seu salário milionário tinha de entrevistar quem não queria e fazer programas de imenso mau gosto.

Querem alterar isto? Mudem de mentalidade... quem vos atende no restaurante, ou na loja do telemóvel, ou o picheleiro, ou o electricista, todos eles são humanos como vocês. São tão ou mais necessários que vocês. O médico salva vidas, porque o electricista instalou os focos de luz, o trolha construiu o hospital e as empregadas de limpeza desinfectaram a sala.  Logo, se deixarem de olhar para as pessoas sem educação universitária como menores que vocês, certamente que um dia (infelizmente não na vossa geração) as pessoas poderão fazer aquilo que desejam e serem recompensadas por isso em vez de se sentirem obrigadas a ir para a Faculdade tirar um curso que não tenha matemática (porque não gostam) para serem alguém.

Isto é um passo, o outro é perceber que as Universidades (privadas ou públicas) são um negócio e nada mais. Se querem estudar algo, façam-no. Mas não assumam que vai ser isso que vos vai assegurar um emprego. Não é! Mas felizmente podemos lutar pelos nossos sonhos e devemos fazê-lo, mas tendo sempre em atenção o que se passa à nossa volta.

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